A operação Lava Jato deve revelar uma nova modalidade de lavagem de dinheiro e evasão de divisas em curso no Brasil: a importação fraudulenta. A Polícia Federal (PF) suspeita que doleiros estão utilizando empresas de comércio exterior para operações ilegais. Quatro deles tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça Federal e seguem detidos na carceragem da PF, em Curitiba. Entre eles está Alberto Youssef, flagrado nas investigações do Banestado, no início dos anos 2000, e beneficiado por um acordo de delação premiada que resultou em 684 pessoas denunciadas, das quais pelo menos 97 foram condenadas.
Três empresas que operam com comércio exterior e tiveram negócios com Youssef estão sendo investigadas. Uma delas é a Sanko Sider Comércio Importação e Exportação de Produtos, que importa tubulações para refinarias, usinas de energia e obras de saneamento básico. Seu sócio, Márcio Bonilho, é investigado por corrupção ativa desde 2008, quando foi flagrado pela operação João de Barro da PF. Segundo as investigações, um gerente da Codevasp teria atuado como "representante comercial" da Sanko e junto a empresas que executavam obras públicas.
Os negócios seriam intermediados por um lobista, que foi diretor da Agência de Desenvolvimento do Nordeste e assessor da liderança do DEM no Senado. A apuração começou em Minas Gerais e só no ano passado foi remetida para a 9ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo. A Sanko Sider forneceu tubos para um trecho de 28 km da adutora do São Francisco, em Sergipe, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) orçada em R$ 114,9 milhões.
Na Operação Lava Jato, a suspeita é que a Sanko tenha sido usada para repassar dinheiro ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, tendo como intermediário o doleiro Youssef. Num processo envolvendo a alfândega, a Sanko informou à Justiça que fornece tubos de aço para refinarias incluídas no PAC e que importou o produto da Petroleum Services, com sede no Kuwait, para atender o consórcio responsável pelas obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Costa era o responsável pela fiscalização da execução da obra, que apenas na fase de terraplanagem sofreu superfaturamento de R$ 70 milhões.
A Sanko trabalhava com tubos de aço carbono importados da China, do tipo sem costura. Seus preços foram alvo de investigação da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que, em novembro passado, aplicou direito antidumping, por até cinco anos, às importações do produto de origem chinesa.
A segunda investigada pela PF é a Labogen, que importa produtos químicos para a indústria farmacêutica. A empresa teria feito remessas de US$ 37 milhões por meio de importações simuladas, segundo as investigações. A empresa já firmou dois convênios com o Ministério da Saúde, com vigência entre 2000 e 2001, para cooperação técnica para o desenvolvimento de fármacos anti-Aids. O primeiro foi em julho de 2000, no valor de R$ 18,080 milhões. O segundo, em agosto do mesmo ano, de R$ 12,1 milhões. Estão presos três envolvidos com o setor farmacêutico: Leonardo Meirelles e Esdra Arantes Ferreira, da Labogen, e Pedro Argese Junior, da Piroquimica Comercial.
Em 2011, a Labogen não tinha dinheiro para pagar credores e a Justiça chegou à conclusão que a empresa não podia ser localizada em nenhum dos endereços fornecidos. A decisão do juiz foi desconsiderar que a dívida era da Labogen e tornar os sócios Leonardo Meirelles e Esdra Arantes Ferreira os responsáveis, respondendo com seus bens pessoais. A ação está em curso.
Outro detido, Luccas Pace Junior, também é dono de uma empresa de importação, a Camargo Pace Logística Importação e Importação. Em 2010, a empresa foi punida pelo Banco Central com multa de US$ 200,5 mil por declarações falsas em contrato de câmbio. Pace já havia sido investigado pela PF na Operação Anaconda, por operações ilegais na Action Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários.
Os advogados dos acusados negam as irregularidades dos seus clientes.
Fonte: Jornal do Comércio
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